Homem que é homem não chora. Esta expressão carregada de valores que foi transmitida através de várias gerações tem levado muitos homens a chorar escondidos. Cada um de nós nasce com características biológicas que pertencem ao sexo masculino ou feminino, no entanto, a biologia não é suficiente para explicar como nos tornarmos homens ou mulheres. Os valores sócio-culturais, as relações que temos com outras pessoas, vão gradativamente constituindo a nossa identidade sexual, que diz respeito à maneira como cada um de nós define o significado do que seja homem ou mulher em uma determinada cultura. O fardo, muitas vezes tem sido pesado demais para os homens que aprenderam a supervalorizar características como a potência e a virilidade.
Toda e qualquer manifestação de sensibilidade e fragilidade, geralmente, é reprimida pelos homens. Muitos choram escondidos devido ao medo de serem olhados diferentemente pelos amigos, pelas mulheres ou pela família. Nas academias de ginástica ou nos bares, os homens tendem a se mostrar viris, potentes e machos, pois aprenderam que a sensibilidade é uma característica mais atribuída às mulheres. Ao tratar de alguns homens, tenho percebido que a carga social que muitos carregam, leva-os a desenvolver depressão, abuso de álcool e drogas e tentativas de suicídio. A agressividade é um dos sentimentos mais comuns quando o homem se sente impotente e frágil, pois, na maioria das vezes, não foi educado para expressar seus sentimentos.
Alguns fatores, como o desemprego, a maior autonomia das mulheres no mercado de trabalho e na relação afetiva e sexual, tem deixado muitos homens deprimidos com a sensação de inutilidade e impotência. Para os homens que foram educados para assumir o seu papel de macho e mantenedor da casa, será preciso rever conceitos e teorias sobre o que significa ser homem na sociedade atual. As mulheres estão mais exigentes e conseguiram conquistar espaços sociais que pertenciam exclusivamente aos homens.
Quando um homem chega ao meu consultório e se permite falar de suas fragilidades, ganha autenticidade e alívio. Torna-se um homem melhor para si mesmo, para a mulher e para os filhos. Ao desnudarmos nossas limitações estamos mais abertos para uma nova realidade. Por trás de um homem autoritário e agressivo, há um homem frágil e inseguro que tem medo de demonstrar suas fragilidades. Podemos aprender a ser sensíveis e não perder a masculinidade.
O enfrentamento destes preconceitos enraizados na nossa sociedade só pode ser superado quando estivermos dispostos a rever as causas de nossas angústias e os momentos em que passamos por desertos emocionais.
Eu sou homem o bastante para dizer que eu tambem choro, pois isso faz parte da nossa vida!
JB PIRES