A felicidade constante é estúpida. Serve para aqueles que desejam uma vidinha normal, uma caminha morna, um beijinho seco de boa noite. Para quem quer a rotina que mata qualquer paixão, qualquer chama, qualquer faísca que possa incendiar uma vida.
A felicidade emburrece. Entorpece. Quero sentir tudo. Deixa doer.
A felicidade é uma cama morna. Preciso de calor. Preciso de brilho nos meus olhos, suor nas minhas costas, vapor nas minhas roupas, preciso do sangue borbulhando em minhas veias. O filho da puta não pára.
Ajudai-me a manter meu caminho de pedras e espinhos, de montanhas e desfiladeiros. A sangrar e chorar com a dignidade de fazer o que preciso fazer. A explodir em mil fogos e chover, brilhando, uma vez a cada cinqüenta facadas. A sorrir sem limpar o sangue seco, porque vale a pena. Tudo vale, porque não saio da minha trilha. Não sei e não quero aprender a andar fora dela. Fora dela não há sentido, não há vida, não há nada além do vazio que me engole quando menos espero, como uma nuvem, uma sombra maldita que me atormenta desde sempre.
Dai-me a força e a coragem de ir até o fim com a cabeça erguida e os olhos fechados. Estou tonto, rouco, sem ar, cega, perdido. Estou perdido. Deus deve salvar. Não se atira no abismo. Se atira em mim.
fonte: Clarah Overbuck